O país da raspadinha
A leitura de um artigo de opinião (ou simples bitaite), independentemente de conhecermos o seu autor, é sempre uma descoberta. A primeira tendência é procurar no texto uma opinião coincidente com a nossa. Quando não a encontramos, das duas uma, ou, discordamos e dizemos para nós "o tipo que escreveu isto é um perfeito idiota", ou, "nunca tinha pensado nisto por este prisma...". Quando o inverso acontece, temos a gratificante sensação de vermos as nossas ideias nas palavras de outrém. Foi esta última sensação que tive ao ler o artigo do Jerico no blog O Jumento. Aqui fica:
Num país em que desde o Infante D. Henrique não há mentalidade de empreendedor, onde todo um povo olha a fortuna como o resultado de um jogo de azar, e até já nos saiu a sorte grande três vezes (o comércio das especiarias, o ouro do Brasil e as ajudas comunitárias), não admira que os portugueses escolham os políticos como se estivessem a jogar na raspadinha.
Não soubemos aproveitar as oportunidades que a sorte da história nos deu, gastámos as fortunas que por cá caíram como se fosse “dinheiro macaco”, e apostamos tudo num golpe de sorte. Assim como o pobre-rico vai a correr comprar o Mercedes também este país esbanjou recursos sem pensar em termos de futuro, como se não houvesse futuro, enchemos a barriga e estamos sempre na expectativa de o próximo quadro comunitário de apoio nos prolongar a boa-vida por mais uns anos. Por isso para Cavaco foi mais importante ter estado nas reuniões do Conselho do que ter entrado para a CEE, por isso Sócrates ganhou credibilidade quando assegurou uns milhões acima do que se esperava.
E fazemos com a política o mesmo que fazemos com o dinheiro que jogamos na raspadinha, escolhemos os políticos sempre na expectativa de que o próximo é que nos vai trazer a sorte grande, e se nos sai apenas a terminação adquirimos logo outra na expectativa de encontrar melhor sorte.
Os portugueses que não acreditam nos políticos, que não percebem que não há salvadores e que o futuro do país está na economia e não nos palácios governamentais, são os mesmos que esperam que seja o próximo político a trazer-nos mais uma sorte grande, talvez uns poços de petróleo na Ria Formosa.
No próximo domingo vai haver outra vez raspadinha.
1 Comments:
Já tinha lido umas coisas nesse blog através do quotidiano e já na altura li umas coisas interessantes, este texto além de ser interessante, está muito bem conseguido, está bestial!
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