Código da Vivência

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Sócio-Cliente

Muda-se de família, de carro, de política e de religião, mas não de clube. Foi com base neste lema que os principais emblemas desportivos descobriram uma nova fonte de rendimento em época de crise. O fenómeno das marcas desportivas é específico e sempre existiu, mas foi a partir da criação das sociedades anónimas desportivas (1996) que Benfica, FC Porto e Sporting se interessaram mais pela área dos associados.
A viragem do milénio foi também o momento em que "passou-se do orgulho em ser sócio para a vantagem de ser associado do clube com que simpatizamos. O sócio a sério é hoje menos representativo", garante Silva Gomes, ex-director-geral da agência de publicidade McCann Erickson.
Desde 1996 as mudanças são gigantescas, desde a forma laboral até ao conteúdo. "Agora é tudo informatizado e mais fácil, mas foi necessário cativar o sócio para virar cliente e depois, numa terceira fase, fidelizá-lo." O publicitário que tentou implementar essa ideia na Luz, na altura da presidência de Manuel Damásio, reconhece hoje que nem todos viam o sócio como uma fonte de rendimento potencial.
Silva Gomes, então vice-presidente da área comercial e marketing do Benfica, foi o responsável pela campanha "Operação Coração", uma espécie de empréstimo obrigacionista em que os sócios compravam títulos do clube (a 5 euros cada), permitindo um encaixe financeiro de cerca de 650 mil euros, que permitiu amortizar dívidas.
Com o nascimento das SAD todo o futebol foi comercializado - e o simpatizante não fugiu à regra. Paralelamente aos contratos milionários dos jogadores, menosprezou-se de alguma forma os valores de quem vibra com as cores de eleição. Mas quando a crise chegou, os clubes socorreram-se dos parceiros estratégicos, empresas que se associam aos emblemas desportivos para chamar clientes. E todos ganham com isso. O marketing desportivo tornou-se assim no playmaker dos clubes e quanto mais forte for a imagem da marca, maior será o poder negocial - nos contratos publicitários, por exemplo. "Ao poucos educou-se o adepto de que ser sócio tinha vantagens para além da ligação efectiva e do desconto no preço dos bilhetes", explica Silva Gomes, para quem a evolução do sócio simpatizante para o associado cliente ainda vive muito à custa do momento da equipa de futebol.
Tal como confirma Henrique Paes, do FC Porto: "Quando vencemos a Liga dos Campeões e a Taça Intercontinental chegámos aos 140 mil associados. Hoje temos 105 mil pagantes. " O director de marketing do dragão vê o FC Porto como "uma marca regional com expressão europeia e mundial". Afinal, o emblema azul e branco está no G14, o núcleo dos clubes mais poderosos a nível mundial. "A nós não nos interessa ter parceiros regionais e desvirtuar o mercado. O nosso conceito é diferenciador, não queremos angariar sócios à "la carte". Queremos e apostamos na fidelização."Já o Sporting é dos três "grandes" aquele que tem menos sócios, mas Pedro Afra acredita que são fiéis. "Temos tido algumas falhas nessa área, mas estivemos 18 anos sem ganhar nada e quando vencemos o título a marca estava bem viva." Para o director do Sporting Comércio e Serviços, "é a fidelização que enaltece e valoriza a marca, não o facto de ter mais ou menos associados. Temos adeptos fiéis que passam a sócios fiéis". Porém, discorda "plenamente" daqueles que dizem que se está a mercantilizar os sócios. "Tentamos levar aos adeptos um pouco do clube todos os dias, em benefício do Sporting e do simpatizante, seja de Caminha ou Lisboa."Para os associados do Benfica não há satisfação maior do que figurar no Guinness como um dos 161 141 sócios da família benfiquista. Miguel Bento, director de marketing do clube, explica que o recorde foi planeado: "E a curto prazo queremos chegar aos 200 mil e no fim do mandato aos 300 mil, um número que não é impossível se cada trouxer um novo sócio."O Kit Sócio do Benfica surgiu depois de um estudo de mercado com a seguinte pergunta: que razões para ser sócio do Benfica? "E percebemos que além da carga emocional havia quem admitisse ser sócio desde que também ganhasse com isso, independentemente de não gostar de ver futebol", explicou.
O valor do cliente do "negócio futebol" envolve hoje todo o universo à volta das cores do emblema de eleição. Mas, tal como os maus jogadores ou os maus dirigentes, também os maus sócios são punidos. Na Luz demitem-se sócios de dois em dois anos, enquanto no FC Porto e no Sporting as listas são revistas a cada quatro anos.
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8 Comments:

At quinta-feira, janeiro 04, 2007, Blogger Terra e Sal disse...

Interessante esta sua reflexão Caro Nuno:
Tudo é mercantilismos...
Em tempos idos, quem ganhava dinheiro com o futebol eram as empresas de caramelos ou rebuçados, creio bem que nem o termo caramelo, existia na prática...

A exploração do futebol julgo que era dos merceeiros e fábricas de rebuçados....
Ao venderem a tostão os rebuçados embrulhados nos “cromos” do futebol, depois da caderneta cheia, que custava uma “fortuna” ainda se tinha de ter o “carimbado” que geralmente estava colado no fundo da “lata”.
Era certo e sabido que nunca saía antes de todos os caramelos serem vendidos, mas havia sempre a ilusão de ele se descolar da lata...

No fim, e se o merceeiro fosse sério e não ficasse com o “carimbado” no bolso, o prémio era a atribuição de uma bola de futebol, muito “foleirona” a quem apresentasse tudo direitinho, caderneta preenchida, e claro, com o respectivo “carimbado...”
Se calhar foram estes os primeiros exploradores do futebol e os primeiros a promover futebolistas, não sei...

Mas seja como for, tudo na vida se altera, quanto mais o futebol... Até os sentimentos das pessoas que, mercê de tudo o que as rodeia, sofre alterações...
Já não há amor e uma cabana, e se calhar até já, nem amor há.

Mas estamos a falar de futebol, ou melhor, falou o meu amigo dele, porque comigo a coisa ficava feia no futebol, e haveria mais oferta de serventia nas obras...

Para mim, o futebol, particularmente, funciona como um circo romano em que muitos dos assistentes deixam ali naqueles “passos perdidos” as suas raivas e frustrações da vida, pagando principescamente para isso...

Pagam aos “gladiadores” e aos seus “donos” para os poderem tratar mal...
As empresas aproveitam-se dessas "raivas" para influenciarem, se promoverem e ganharem mais algum...

Mas gostei da explanação mercantil em que faz ter saudades dos tempos de “antanho”em que um bom jogador de futebol tinha “direito” por “cunha” a ir trabalhar para uma empresa sólida, muitas vezes aprendendo uma profissão como garantia do seu sustento no futuro, quando acabassem os seus anos áureos...

Era linda uma terrinha ter craques de comportamento humilde, cheios de saúde, leves de espírito, que era limpo, saudável, arejado e asseado em todos os sentidos...

Mas isso era no tempo em que ainda havia “amor e uma cabana”
Ahh!
Ia-me esquecendo.
Naquele tempo eram uns senhores...
Imagine que não pagavam IRS...
Isto agora é mesmo uma exploração!...
Cumprimentos.

 
At quinta-feira, janeiro 04, 2007, Blogger VerDesperto disse...

Caro sal, independentemente de eu concordar ou não com esta alteração à lei, os fotobolistas pagavam irs, sim senhor. Pagavam era só sobre 60% dos rendimentos. E não era por serem fotobolistas, mas por serem atletas de alta competição. Ou seja, os media falam muito dos fotobolistas e do abuso que é eles ganharem milhões e não pagarem os impostos como nos, mas não dão o devido destaque à lei e à descriminação que esta lei vai impor. Como deve saber os fotobolistas não são os únicos atletas de alta competiçãoq ue Portugal tem. Então, muitos dos nossos ateltas profissionais abdicam de uma vida inteira para exercer a curta duração de uma profissão de desporto tal como a ginástica, o andebol o polaquático, o judo, etc. Poderia ter havido ajustes à lei mas não desta maneira. Tal como o mesmo tipo de lei foi aplicada aos defecientes. Aqueles que ganham nem que seja um ordenado de part-time deixam de ver o seu irs ser cobrado aos 60% dos seus rendimentos.
Independentemente desta lei há que ver que muitos jogadores profissionais não auferem grandes ordenados.
Quanto ao post propriamente dito, está relacionado também com a cultura. Hoje é dificil alguém acompanhar algo por carolice. Tem de haver sempre uma mais valia, uma contrapartida. É por isso que as assciações recreativas estão a desaparecer, o amor por uma causa não está na moda e só uma minoria continua a acreditar no genuino.

 
At quinta-feira, janeiro 04, 2007, Blogger Terra e Sal disse...

Ó Helena Tadeu....
Você que viu nascer o “Salmarítimo” como a posso contrariar?
Além disso não compreendeu a minha ironia do IRS, mas deixe lá...
Mas não a posso contrariar, não quero, nem devo, mas também não lhe quero dar a razão toda, sou avaro da minha.

Mas deixe-me falar-lhe só de duas coisinhas...
Acredito que haja futebolistas que ganhem pouco...
Mas aqueles que não se conseguem “governar” em meia dúzia de anos, por muito gosto que tenham pelo futebol têm de optar por outra meio de vida, penso.
E se o gosto for muito pelo desporto, podem sempre praticá-lo aos sábados ou domingos, com os amigos...
Conheço alguns que até nem ganham nada, mas gostam de jogar, e jogam...

Mas tem de reconhecer que, o IRS recai, e deve recair sobre os rendimentos auferidos, seja de quem for...
E as pensões de reforma dependem dos descontos efectuados que um dia também chegarão, se entretanto, este país, não der em banca rota de vez...

E do mesmo modo penso que deve ser igual para todos, já que, não acho justo que os sectores da função publica levem uma coisa, e os do privado, outra...

Eu tenho uma profissão que me obriga a não ter horários fixos como a maioria das pessoas, não gosto de rotinas e tenho essa possibilidade...

Circule às 6 horas e 7 da manhã, muitas vezes mais cedo ainda, pelos arredores industriais das grandes cidades, e aprecie...

Um corrupio de gente, novos e velhos, homens e mulheres, ao frio à chuva, ao vento, de marmita atrás de si, com uma “tossiqueira” desgraçada mas sempre a pedalar para o trabalho, sem nunca faltarem, para no fim do mês trazerem no bolso uns míseros 400 euros...
Com eles têm de manter uma família, pagar rendas de casa e mais os estudos dos filhos, em que alguns, até se calhar por isso mesmo, licenciam-se com notas “espectaculares,” como diria o nosso senhor Presidente da Câmara...

E se têm a tentação de trabalharem mais umas horitas extraordinárias para comporem o “ramalhete” lá vem o Estado “sacar” o seu quinhão, ou seja, o IRS...
Depois Helena, há aquelas reformas de 200 euros...

Sabe, que no tempo que certamente nem você nem eu conhecemos, ninguém pagava nada de nada de impostos, agora o resultado está à vista, mas eles são os únicos que não culpados dessa situação...

Veja como vivem, e os privilégios que o Governo lhes dá...
Metade da reforma vai para a farmácia, e mesmo assim ficam sempre sem tomar parte da prescrição médica, por falta de verbas do seu “orçamento” familiar...

O remanescente da chamada reforma é entregue para pagamento de taxas moderadoras, nos hospitais e centros de saúde....

Pois é Helena...
A haver priviligeados tinhamos de começar por estes, que bem castigados foram toda a vida...

Eu sei que era lindo termos desportistas bons, habilidosos e famosos e não famosos, em que se lhe desse oportunidade de fazerem o que gostam...
Mas isto aqui não é propriamente o Kuwait...
O nosso petróleo está na força do trabalho...

Quantas pessoas haverão no país ou no mundo, que fazem efectivamente o trabalho de que gostam...?
Portanto cara Helena tranquilize-se que não jogar à bola ou outra coisa qualquer, seja o que for, não é traumatizante para ninguém.

Desculpe lá a “desengonçada” desta resposta mas quero que saiba que foi mentalmente, mais coisa ou menos coisa, o suporte sobre o que comentei acima, mal ou bem, na opinião dos outros, não importa, mas é isso que penso.

Eu até sorrio quando os vejo sair dos estádios, naqueles carros desportivos e “topos de gama”...
Não sei porquê penso sempre:
Ainda bem, seria bem pior vê-los por aí nas ruas, em ambientes de miséria humana que todos nós conhecemos.

Já não acho tanto nem graça nenhuma é que vivam e usufruam dos bens comuns do país, como qualquer outro cidadão normal, já que, o seu contributo não tem sido equitativo ao comum dos seus concidadãos!

Gostei de falar consigo. Cumprimentos, um bom ano, e bons negócios..

 
At quinta-feira, janeiro 04, 2007, Blogger Nuno Q. Martins disse...

Caríssimos;

As conversas são como as cerejas e, de repente, um post que era sobre o "novo" conceito de «sócios-clientes» dos Clubes derivou para a questão do IRS dos jorgadores.

Não era propriamente este o rumo que tinha imaginado para este "mini-fórum", mas, já que o assunto veio à baila, permitam-me só dois apontamentos que me parecem pertinentes nessa questão.

Este ano acaba-se o regime de transição, ou seja, já há alguns a esta parte que os salários dos jogadores todos os anos eram tributados numa taxa mais elevada, acabando-se assim com o regime de excepção que gozavam. Francamente, não entendo o "alarido" criado agora pelo sindicato dos jogadores quando a situação já estava prevista há vários anos, vinha sendo progressivamente aplicada e a sua justiça social não é posta em causa. E mais, os atletas de alta competição continuam a ter privilégios no que aos descontos para a segurança social diz respeito e um dia, quando auferirem as suas reformas, essas serão de acordo com o que aquilo que receberam e descontaram ao longo das suas carreiras contributivas. Assim esperamos.

Parece-me que o sindicato limita-se a fazer um pouco de barulho agora para "mostrar trabalho" aos seus filiados, porque na verdade, toda a gente que anda no mundo do futebol sabe que o ónus do "aumento" do IRS vai acabar por recair sobre os Clubes.

Cumprimentos a ambos e obrigado pela participação. :)

 
At sexta-feira, janeiro 05, 2007, Blogger Mariana disse...

Poderia haver um cartão para os simpatizantes =P Há quem torça por um clube, mas por as mais variadas razões não pode acompanhar como queria (resta-nos a tv). Mas sempre que dá lá estão eles =) Há quem queira fazer parte daquela família, mas não possa cumprir com os 'deveres' de um sócio, logo isso, faz dele mau sócio, e penso que as coisas não deviam ser assim tão 'preto no branco'. Toca abrir uma associação para os simpatizantes =D



Beijinhos.

 
At sexta-feira, janeiro 05, 2007, Blogger VerDesperto disse...

não sei onde encontrei o sal maritimo... mas sempre gostei mais de mar do que de terra... :)
Bom ano para si também!

 
At sexta-feira, janeiro 05, 2007, Blogger Al Berto disse...

Viva:

É consenso geral de que mulher séria é aquela de quem menos se fala.
O contrário também é verdade.
A não perder, no Estados Gerais, o video que sofreu a censura da justiça brasileira que, deste modo, colocou o país a ridículo na cena internacional no que á liberdade de informação diz respeito.
Urgente, antes que o boicotem... apesar de não ser nada de especial, bem pelo contrário.

Cumprimentos,

 
At segunda-feira, janeiro 08, 2007, Anonymous Anónimo disse...

Boa noite

O trabalho "Sócio-Cliente " até um bom artigo, mas....

é sempre bom referir as fontes :
publicado no DN de 10Dezembro 2006
http://dn.sapo.pt/2006/12/10/tema/clubes_descobriram_o_cliente_ha_soci.html

 

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